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Sex, 23 Ago 2019 17:40:00 -0300
Pesquisa brasileira aponta degelo na cordilheira andina
Com séries temporais de, pelo menos, 5 anos, pesquisa apoiada pelo CNPq identificou temperaturas de 4 a 5 graus acima do esperado para as altitudes estudadas e gerou uma projeção de total degelo em menos de 50 anos. A situação pode afetar toda a hidrologia da Bacia AmazônicaSéries temporais obtidas por pesquisa apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) mostram sinais de aquecimento e perda do permafrost (camada de terra, gelo e rochas que deveria ser permanentemente congelada) na Cordilheira Andina. O estudo realiza há mais de cinco anos o monitoramento climático a partir de seis sítios (Equador, Peru, Bolivia, Chile-Atacama, Chile-Torres del Paine, Argentina-Ushuaia) e identificou temperaturas 4-6 graus acima do esperado para as altitudes estudadas. O problema é mais critico nos Andes Tropicais, que possuem as últimas massas de gelo e neve nos trópicos do planeta, cabeceiras da Bacia Amazonica. A região é onde estão os últimos remanescentes de glaciares e campos de neve que abastecem a Bacia Amazônica.
A pesquisa, realizada pela Rede Andina de Monitoramento, faz parte, desde 2009, de um Projeto do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) e instalou os primeiros sistemas de monitoramento de permafrost de alta montanha. Hoje, é responsável pela maior rede de monitoramento de solos gelados do mundo na Antártica. O coordenador da pesquisa, o Prof. Carlos Schaefer, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Bolsista 1A do CNPq, explica que o aquecimento global é "real e mensurado" e as temperaturas constatadas apontam que as frentes de geleiras tendem a desaparecer completamente em menos de 50 anos, afetando toda a hidrologia da Bacia Amazônica. "Os impactos sociais e ambientais das mudanças climáticas em cenário de forte aquecimento nos últimos campos de gele e neve dos trópicos em escala global indicou a necessidade de uma governança integrada para fazer frente aos problemas hídricos que vão agravar-se muito com o tempo", aponta o professor.
Prof. Schaefer em campo para a pesquisa desenvolvida no âmbito do Proantar. Foto: Divulgação
O aquecimento acelerado, segundo Schaefer, já está afetando o abastecimento de água em bacias que dependem da água vinda do degelo das montanhas. Pelo menos 99% das geleiras tropicais se concentram no Peru, Bolívia, Colômbia e parte do Equador e a Amazônia é a última bacia tropical do planeta que ainda possui volumes de neve e gelo nas suas montanhas. "O degelo dos solos dos Andes já está afetando a agricultura e, em breve, vai se transformar em um problema geopolítico para a América Latina, com processos migratórios intensos em busca de água e comida para a sobrevivência", alerta.
A pesquisa
O objetivo dos estudos realizados pela Rede é coletar dados para pesquisas que mostram como os solos cobertos de gelo e chamados de permafrost estão derretendo. O monitoramento de permafrost ajuda a compreender as tendências e os efeitos das mudanças no clima em todo o planeta e as possíveis alterações no nível dos oceanos.
A UFV também sedia o Terrantar, um dos cinco núcleos que integram o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera. Em 18 anos de expedições à Antártica e, mais recentemente aos Andes, a UFV já formou dezenas de pesquisadores que compõem o maior grupo de doutores em ciências polares em atividade no Brasil.
As pesquisas brasileiras do INCT ainda revelam que as partículas de carvão, como as que caíram com chuva, na cidade de São Paulo, no ultimo dia 20 de agosto, contribuem com 30% do derretimento dos Glaciares dos Andes, mostrando mais uma conexão do desmatamento, queimadas e aquecimento global.