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Qui, 06 Set 2018 18:17:00 -0300
Semana do Cerrado apresenta pesquisas do PELD
Para apresentar toda a diversidade do Cerrado e alertar para os riscos que o bioma vem correndo, o PELD Cerrado realizará, entre os dias 11 e 15 de setembro o evento 'Semana do Cerrado', no Jardim Botânico de Brasília. Aberto para o público de todas as idades, a Semana contará com atividades bem didáticas, com jogos, exposição, oficinas, histórias, trilhas, óculos de realidade virtual, entre outros.Uma semana para celebrar e aprender um pouco mais sobre o cerrado, um bioma de aproximadamente 2 milhões de km2 de área original que apresenta a maior diversidade biológica entre as savanas mundiais. Além de ser uma região de grande importância para a conservação de recursos hídricos com um grande número de nascentes e parte considerável das principais regiões hidrográficas da América do Sul.
Ipê amarelo floresce em Brasília - Foto: Roberto Hilário/CNPq
Para apresentar toda essa diversidade e, ainda, alertar para os riscos que o cerrado vem correndo devido ao desmatamento que já tirou 50% do cerrado, o programa PELD Cerrado realizará, entre os dias 11 e 15 de setembro o evento 'Semana do Cerrado', no Jardim Botânico de Brasília. Aberto para o público de todas as idades, a Semana contará com atividades bem didáticas, com jogos, exposição, oficinas, histórias, trilhas, óculos de realidade virtual, entre outros.
Segundo a coordenadora do PELD Cerrado e idealizadora do evento, a Prof ª da Universidade de Brasília (UnB), Mercedes Bustamante, a ideia do evento foi, primeiro, mostrar um pouquinho do que a gente faz e como se faz ciência, mas, também, criar uma consciência da importância do cerrado para a população em geral, desde as crianças até os adultos. Segundo a professora, já está agendada a visita de 2500 crianças, alunos e alunas de escolas publicas e particulares.
Bustamante explica que esse retorno à sociedade sempre foi uma preocupação do PELD Cerrado e que trabalham para que ele seja um projeto de pesquisa que tenha essa extensão envolvendo a comunidade.
Profª Mercedes Bustamante fala sobre o evento que acontecerá em Brasília durante a Semana do Cerrado. Foto: Claudia Marins/CNPq
A Semana do Cerrado é uma produção da rede de pesquisadores de diferentes instituições como a Universidade de Brasília, Universidade Católica de Brasília, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Jardim Botânico de Brasília e Reserva Ecológica do IBGE, estudantes de áreas de Cerrado no Distrito Federal.
Confira toda a programação do evento aqui.
O PELD Cerrado
Programa Ecológico de Longa Duração (PELD) é uma iniciativa pioneira, existente há 20 anos, de articular uma rede de sítios de referência para a pesquisa científica no tema de Ecologia de Ecossistemas. Por ele, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) fomenta a geração de conhecimento qualificado sobre os nossos ecossistemas e a biodiversidade que abrigam, em parcerias, ao longo desses anos, com as Fundações de Amparo a Pesquisa (FAPs), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes e o British Council - BC -Fundo Newton.
Seis dos 34 sítios PELD vigentes estão localizados no bioma Cerrado, desenvolvendo pesquisas com foco em ecologia de ecossistemas. Em geral, os estudos tratam de aspectos relacionados à estrutura e funcionamento de ecossistemas e dos impactos antrópicos e ambientais (fogo, defaunação, poluição sonora, luminosa e invasões biológicas) sobre a biota do Cerrado.
Incêndios são uma das causas de devastação do cerrado brasileiro - Foto: Roberto Hilário/CNPq
Desses grupos, está o PELD Cerrado, que faz parte do programa desde a sua implementação. Para a professora Bustamante, a possibilidade da continuidade da pesquisa em longo prazo é importante para o monitoramento. "Conseguimos separar o que é o sinal e o que é ruído. O ruído é normal que os sistemas naturais tenham. Mas quando você começa medir por muito tempo, você consegue entender que já não é um ruído, ta começando a mudar o padrão", explica a professora.
O PELD Cerrado estudo o bioma há 20 anos dentro da área do Distrito Federal conhecida como APA Gama Cabeça de Veado, uma Área de Proteção Ambiental que protege vários cursos de água, que contribuem depois para bacia do Paranoá. São três áreas separadas que formam, juntas, uma das últimas manchas de cerrado preservado dentro do Distrito Federal.
"Só que, se você olhar no mapa, essas três áreas estão separadas, tem três áreas preservadas, mas que não tem conexão. Foram separadas por conta da urbanização, que não se pensou naquele momento que era importante ter corredores entre as águas", explica Bustamante.
Assim, o monitoramento realizado pelo grupo de pesquisa é de extrema importância para acompanhar os processos que acontecem dentro das áreas protegidas, que não estão isentas de impacto. "Elas estão cercadas pela cidade, então você tem poluição sonora no Parque que afeta as aves, os morcegos, os animais que precisam do som para se comunicar. Você tem poluição luminosa porque o brilho da cidade atrapalha, sobretudo a parte da fauna noturna da área. E tem processo de invasão de espécies exóticas que entram, porque a área vai sofrendo queimada perto da beira da estrada", completa a professora.
A professora Bustamante fala sobre os projetos do PELD Cerrado - Foto: Claudia Marins/CNPq
Bustamante explica que o projeto do PELD busca, então, monitorar e entender o que está acontecendo com essas áreas que vão ficando isoladas e cercadas de paisagens dominadas pelo homem. "O fato de você ter uma pesquisa que tem um financiamento de longo prazo, sobretudo para esses sistemas que vão sofrendo esses tipos de alterações e vão mudando é importante", ressalta.
Um dos resultados do projeto foi o de entender como o fogo afeta o sistema em longo prazo. "Uma coisa é você fazer uma queimada rápida, e observar três, quatro meses depois. Mas será que ela vai ser a mesma 5 anos depois?", explica a professora.
Outra questão observada pela pesquisa diz respeito às invasões biológicas, porque as áreas nativas acabam funcionando como termômetro do que está acontecendo em volta. Bustamante exemplifica: "Tem grupo que trabalha com que pode parecer organismo pequenininho, mas que é importante, as mosquinhas das frutas, as Drosophilas. Eles percebem a entrada de espécies exóticas que vieram de outros locais, dentro da reserva ecológica. E uma delas detectada foi uma praga importante no morango. Então esse monitoramento pode te indicar que há uma possibilidade de uma praga importante entrar dentro da área observada". Isso, segundo a professora, permite, por exemplo, apontar mecanismos de controle e pensar em soluções como colocar barreiras e proteção contra os sons, plantando arvores diminuindo a luminosidade e os ruídos da cidade que atrapalham as áreas protegidas.
Garça branca pousa em ipê amarelo, em Brasília - Foto: Roberto Hilário/CNPq
Outro grupo monitora há muito tempo os córregos que nascem nas áreas e que depois vão alimentar as bacias que atendem o Distrito Federal. A ideia é acompanhar em período longo e identificar as mudanças. Um dos impactos já observados é da grande seca que a região sofre em 2016. A professora citou uma pequena lagoa da área de proteção que foi vista, pela primeira vez nesses 20 anos, secar completamente. "Então a gente percebe que mesmo nessas áreas que tem uma boa vegetação, se a gente continuar nesse processo, a tendência é que realmente a gente tenha redução de água", finaliza.