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Sex, 13 Jul 2018 17:49:00 -0300
Pesquisa desvenda os recifes de Abrolhos
Artigo publicado por pesquisadores brasileiros aponta para novos aspectos da singularidade das estruturas recifais conhecidas como chapeirões.Segundo o estudo, os corais, protagonistas na construção dos recifes tropicais em outras regiões do mundo, possuem um papel menor no ecossistema de Abrolhos, onde briozoários, e as algas coralináceas, desempenham essa função essencial.Artigo publicado no mês de junho deste ano por pesquisadores brasileiros, na revista Scientific Reports, aponta para novos aspectos da singularidade das estruturas recifais conhecidas localmente como "chapeirões", em alusão a seu formato de chapéu. Os corais são os protagonistas na construção dos recifes tropicais em outras regiões do mundo. No entanto, a descoberta relatada no artigo revela que invertebrados filtradores conhecidos como briozoários, juntamente com algas coralináceas, desempenham essa função essencial no ecossistema de Abrolhos, onde os corais possuem um papel menor como estruturadores do recife.
Vista aérea de dezenas de chapeirões, recifes em forma de cogumelos, típicos da região de Abrolhos, no sul da Bahia. Os resultados publicados revelam a grande importância de briozoários na construção desses singulares recifes biogênicos. Foto: Fernando Moraes/ Rede Abrolhos.
O novo estudo também relaciona aspectos oceanográficos e climáticos, tais como a ausência de furacões e tempestades tropicais, à morfologia peculiar e à diversidade dos recifes de Abrolhos. O trabalho, realizado pelos cientistas da Rede Abrolhos, tem subsidiado medidas para a gestão sustentável do uso dos recursos naturais.
O artigo atual é um terceiro capítulo de pesquisas que estão sendo realizadas há mais de dez anos pela Rede Abrolhos no maior complexo coralíneo do Atlântico Sul, localizado no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.
Esse trabalho tem dentre os financiadores o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio do PELD Abrolhos: monitoramento do maior complexo coralíneo do Atlântico Sul, entre o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo. Os co-autores estrangeiros são Pesquisadores Visitantes Estrangeiros bolsistas do programa Ciência Sem Fronteiras e os coordenadores da Rede Abrolhos, Alex Bastos, Rodrigo Leão de Moura e Gilberto Menezes Amado Filho são bolsistas de em Produtividade do CNPq.
Ao longo de uma década de trabalho, o grupo produziu dezenas de artigos, teses e materiais de divulgação, uma trilogia científica que alterou o entendimento sobre a região de Abrolhos, no sul da Bahia e norte do Espírito Santo.
Com o uso de sistema de mergulho fechado (rebreather), os pesquisadores aumentaram o tempo de trabalho no fundo do mar, permitindo a operação prolongada da perfuratriz hidráulica para a coleta de amostras geológicas, entre 4 e 25 metros de profundidade, no Banco dos Abrolhos. Foto: Gilberto Amado-Filho/ Rede Abrolhos.
Em um artigo de 2012, publicado na revista PLOS ONE, foi revelada a ocorrência do maior banco de rodolitos do mundo, ao largo da área recifal mais conhecida e estudada desde os trabalhos pioneiros de Charles Darwin no Século XIX. Rodolitos são nódulos calcários estruturados por algas coralináceas que mineralizam carbonato de cálcio.
Dada a magnitude da formação descrita no artigo, Abrolhos foi colocado no mapa mundial das áreas recifais que mais contribuem com o sequestro de carbono, tais como o Caribe e a Grande Barreira australiana. Em 2013, um levantamento publicado na revista Continental Shelf Research revelou que o fundo marinho de Abrolhos abrange um complexo mosaico de hábitats, no qual a área de recifes é 20 vezes maior do que aquela anteriormente conhecida. Esse artigo chamou atenção para o baixo nível de conhecimento sobre a plataforma continental, mesmo em áreas emblemáticas como Abrolhos.
Os pesquisadores da Rede Abrolhos utilizaram uma perfuratriz hidráulica submarina para coletar amostras dos recifes entre 4 e 25 metros de profundidade. Os resultados revelaram uma formação biogênica singular em Abrolhos, onde briozoários são os principais construtores dos recifes. Foto: Gilberto Amado-Filho/ Rede Abrolhos.
Este artigo de 2018, segundo o pesquisador Alex Bastos, quebra um paradigma sobre quais são os principais organismos bioconstrutores da estrutura do recife em Abrolhos. "O principal resultado mostra que os recifes de Abrolhos são construídos na sua maioria por briozoários e não por corais, como sempre foi descrito. Isso desperta uma complexidade ecológica muito maior do que era tratado anteriormente", explica Bastos.
Para o pesquisador, a pergunta hoje é como se dá o crescimento de uma estrutura com esta complexidade de biocosntrutores. "Além disso, a gente chama a atenção para o fato de que o Atlântico Sul é uma zona de baixa energia quando se trata da ocorrência de tempestades tropicais e furacões. Essa baixa energia pode ser a explicação para o formato em cogumelo único e somente observado em Abrolhos, que recebe o nome de chapeirão", conclui.
Bastos destaca, ainda, a importância da abordagem multidisciplinar e de longa duração para a consolidação, no cenário internacional, das ciências do mar desenvolvidas no Brasil. "Nesses anos de pesquisa multidisciplinar a gente conseguiu publicar trabalhos mostrando a extensão do banco de rodolitos, a vasta ocorrência de recifes submersos, a ocorrência e importância das 'buracas', a produção de carbonato de cálcio no Banco de Abrolhos e agora estamos investindo nossos esforços no entendimento da estrutura recifal e do registro geológico/ecologicos de mudanças climáticas e variação do nível do mar", finaliza o pesquisador.
Mais detalhes sobre as pesquisas podem ser vistos em dois vídeos realizados pelo grupo, disponíveis na versão original e com legendas em inglês.
Além do CNPq, as pesquisas receberam financiamento da CAPES, IODP, FAPERJ, FAPES e ANP/Brasoil.
Contatos da Rede Abrolhos:
Gilberto Menezes Amado Filho, Inst. Pesq. Jardim Botânico do RJ (21 99271-9550)
Alex Cardoso Bastos, Univ. Fed. do Espírito Santo (27 98116-2318)
Rodrigo Leão de Moura, Univ. Fed. do Rio de Janeiro (21 99609-2724)